Os Tuins - Wilson W. Rodrigues

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Eram tantos os tuins pousados na árvore seca que pareciam a essência de uma enorme flor azul. Foi o tuim do galho mais baixo que viu o tatupeba chegar à boca do buraco e deixar a tristeza do seu olhar subir pelo alto.
- Que é isso, Tatu? Estás tatuzando o céu?
- Ah!, Tuim, estou triste.
- Triste, Tatu, por quê?
- Meu tatuzinho está doente.
- Doente?
- Coitado, nem pode andar.
- Não pode andar?
- Não.
E ajuntou:
- Está lá no fundo da toca, caidinho como quê.
Tuim pensou e propôs:
- Por que não o trazes cá para fora?
O tatupeba respondeu:
- Não posso.
E explicou:
- O Coatá-cirugião disse que ele não pode pegar corrente de ar.
- O Coará-cirurgião disse isso?
- Disse, Tuim.
Tuim olhou para o Tatu e arriscou:
- Imagino como a Tatu-mãe deve andar desesperada.
O Tatupeba confirmou:
- E anda mesmo. Ela anda tão triste, coitada... porque meu tatuzinho vive pedindo uma coisa que nós não temos.
- Que coisa, Tatu?
- Imagine, Tuim... o tatuzinho quer um pedaço do céu.
- Um pedaço de céu?
- Pois é. Ele quer ver o céu.
E contou ao Tuim:
- O tatuzinho não pede outra coisa: "Mamãe, eu quero ver o céu".
E desconsolado, o Tatupeba confessou:
- Se ao menos eu tivesse um pedaço de céu... mas ele está tão alto... tão alto.
- Por isso não, retrucou o Periquito.
E disse:
- Eu e os meus irmãos tuins somos da cor do céu.
Tuim chamou os irmãos e falou:
- Tatuzinho está doente e quer ver o céu.
Todos os Tuins se meteram dentro do buraco e recobriram o alto da toca como se fora um pedaço de próprio firmamento.
Tatu-mãe acordou o tatuzinho e disse:
- Olha, meu filho, olha o pedaço de céu.
Tatuzinho abriu os olhos, sorriu e disse:
- É o céu que veio nos visitar, mamãe.


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