Crônicas de ônibus - parte 1

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É engraçado quando estamos num ônibus cheio e de repente a pessoa que passou por nós em um ponto entra no mesmo ônibus em que estamos, no outro ponto. A conversa não durou nem cinco minutos mas foi, talvez, tão inspiradora quanto uma conversa que dura horas com algum amigo inteligente. "Eu lhe indico um livro, é baseado em fatos reais, me inspirou a viajar pelo mundo, já passei por treze estados e nove países."
É engraçado também, para não ser trágico, a facilidade que eu tenho para esquecer o que dizem a mim, ainda mais algum título de livro, se eu não anotar. Não perguntei seu nome, ele também não perguntou o meu. Também não recordo direito mais sua fisionomia, minha memória fotográfica não é tão boa assim, eu acho. Mas não esquecerei os sorrisos trocados no primeiro olhar dentro do ônibus ou de quando ele me chamou de "flor" ao se despedir e no último olhar antes de seguir viagem.
Ele poderia ser um cara legal ou um psicopata estuprador e estivesse mentindo naquela hora, tanto faz. Nesse caso, não importa quem fosse a pessoa, poucas trocas de palavras podem significar muito dentro de um ônibus... quer dizer, ainda mais num ônibus, onde ninguém tem contato mas todo mundo está junto (ou quase grudado); um lugar vazio cheio de desconhecidos; um lugar não muito poético, talvez. Ou, quem sabe, um lugar com pessoas e seus olhares e corpos cansados porém seus espíritos cheios de vida, querendo um mundo novo, um amor novo, um desejo novo. Não se sabe, as aparências enganam. Momentos como esse podem nem importar, também.
Talvez eu lembre o título do livro, talvez eu lembre de sua fisionomia em alguma fantasia desvairada da minha mente, quem sabe voltemos a nos encontrar por acaso num ônibus qualquer ou, pelo contrário, talvez eu nem lembre mais desse momento daqui a alguns anos, meses ou dias. Talvez seja por isso que eu esteja escrevendo: para não esquecer de pequenos momentos inusitados e/ou especiais que muitos deixam passar despercebidos durante a vida.


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