Como deve ser...

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... a conversa das formigas?

As formigas gostam muito de conversar, tanto que, ao se verem, sempre se falam um pouco. E um pouco mesmo, porque o trabalho sempre é grande e não há muito tempo para bate-papos. Por isso, elaboraram algumas maneiras de falarem das novidades sem perder o ritmo. Uma maneira, por exemplo, é a conversa ligeirinha. A primeira chega e diz: "Eu vou muito bem, a família também, vou ganhar mel de aniversário, meu pai viaja amanhã para o Formigueiro do Norte, você vai para o show da Cigarra amanhã? Tchau". E a segunda responde: "Tudo ótimo, minha família nem tanto, a vovó está com diabetes. Meu namorado me deixou, estou com outro. Vou para o show da Cigarra, me ache lá. Atézinho". A outra maneira é de se conversar aos poucos, uma frase por passada. "Oi, tudo bom?", "Tudo, e você?". Ao se reencontrarem, retomam: "Vou bem, obrigada. E as novidades?", "Nem te conto!". Na terceira topada, seguem o assunto: "Ai, tô ansiosa. Que novidade é essa, afinal?". A outra coça a anteninha e diz: "Ih, esqueci!"



...morar no telhado?

Primeiro, a gente arranja uma pantufa para não quebrar as telhas ao caminhar. Depois se preocupa em agarrar um guarda-chuva perdido no vento, para dias de sol quente ou noites de chuvarada. Conseguir água não é difícil: o problema mesmo está com a comida. É preciso contar com a pontaria de arremesso dos vendedores que passam na rua, principalmente quando se trata de sorvete ou suco. Para varrer as telhas, basta a gente pedir emprestada a vassoura das bruxas que passam de vez em quando. Para dormir, a gente junta as penas dos pássaros que caíram ao longo do dia e faz um pequeno travesseiro. E quando a gente quiser ser ninado, porque o escuro às vezes dá um vazio no peito, é só fechar os olhos e ouvir os sons da cidade aos poucos diminuir.



...a vida do piloto de avião?

Os pilotos se apaixonam pelas aeromoças. Quando estão de namoro, os pilotos ficam o voo todo esperando pela hora em que elas vão aparecer com um suco de laranja e um beijinho. Ao se casarem, cruzam o corredor do avião acenando, ele, de terno preto, ela, de branco e grinalda, enquanto os passageiros aplaudem e o padrinho, co-piloto, segura as pontas na cabine. Os pilotos gostam de algodão doce de baunilha, porque parecem as nuvens que eles sempre quiseram tocar. Os pilotos, quando todos os passageiros estão dormindo, pegam o microfone do avião para cantar cantigas de amor. Às vezes, os pilotos passam tanto tempo no ar que, ao pousarem e saírem do avião, flutuam sobre o chão um minuto inteiro, antes de começarem a caminhar com o pé depois do outro.


Fonte: Jornal A Tarde - A Tardinha - Sábado, 6 de fevereiro de 2010. Por Saulo Dourado, 20, estudante de filosofia e escritor.


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